MS em Dia | Por Luiz Taques | 16/06/2019 07h00

OPINIÃO: Juízes galãs de cinema 4h171n

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Certa vez, o editor Sérgio de Souza, o Serjão da revista Caros Amigos, pediu que eu fizesse uma grande entrevista com Odilon de Oliveira, o todo poderoso juiz que combatia com mão de ferro o crime organizado na fronteira do Brasil com o Paraguai. À época, disse-lhe: isso, nem pensar.– Não daria uma capa?Respondi com outra pergunta: lembra o que você me falou sobre o José Trajano e o Juca Kfouri?Serjão tinha enorme capacidade de compreender uma situação. Comigo, não mais tocou nessa pauta. À dupla Trajano/Kfouri, voltarei mais adiante. 1s86a

Jornalistas e cineastas precisam agir com extrema cautela diante de juízes e promotores que estão na moda – ou melhor, com juízes e promotores arroz de festa da mídia. Odilon não ava disso – igual vemos agora que Moro e Dallagnol também não. Da magistratura, Odilon de Oliveira já se aposentou. Virou, então, candidato a governador pelo PDT de Mato Grosso do Sul. Contrariou o seu partido ao apoiar Bolsonaro, em vez de Fernando Haddad, a presidente da República. Tal apoio não engrandeceria o currículo de um juiz que, num ado recente, apresentava-se à sociedade como inimigo togado dos traficantes de drogas e de armas. Ponta Porã, cidade onde Odilon mais atuou, virou terra sem lei. Odilon não acabou com a bandidagem; tampouco com as milícias que se instalaram lá. E mais: para assumir o controle do tráfico internacional de drogas, o PCC transformou a região numa praça de guerra. Tornou-se angustiante morar na fronteira.

Porém, o juiz já havia sido endeusado pelos meios de comunicação. Somente faltava a sua ascensão ser exibida no cinema. Pela Globo Filmes, essa ideia vingou. Daí que a sua trajetória se confundiu com a do roteiro do filme “Em nome da lei”. O elenco é bom – o filme, não convence.

Se o cineasta Sérgio Rezende tivesse esperado um pouco mais, conduziria à telona outros assuntos palpitantes a respeito da carreira de Odilon – alguns deles apareceram nas eleições de 2018. Rezende, talvez, chegasse à conclusão que Odilon não merecia ser o mocinho de um filme. A pressa não contracena com a arte. Quem estampou o drama de Zuzu Angel não poderia dar essa derrapada artística. Zuzu Angel foi morta pelo regime militar. Na campanha eleitoral do ano ado, o ex-juiz Odilon declarou que, no Brasil, não houve ditadura militar e, sim, governo militar. Será que ele não viu a história de Zuzu Angel no cinema?

Odilon perdeu a eleição: teve 47,65% dos votos dos sul-mato-grossenses; o eleito, Reinaldo Azambuja (PSDB), abocanhou o restante: 52,35% dos votos. Que enrascada! Não sei o que levou Chico Diaz a aceitar interpretar aquele papel. O talentoso e intenso Diaz seria o contrabandista que mandava na região. O global Mateus Solano foi o ator que deu vida a Odilon de Oliveira. Solano tem porte atlético, presença a impor respeito. Quem já o viu fazendo exercício na avenida Afonso Pena, em Campo Grande, escoltado por policiais fortemente armados, sabe que Odilon é o oposto de Mateus. Politicamente, Mateus Solano seria mais esperto também: ao abrir a boca, certamente o ator não falaria tamanha besteira sobre aquele período sombrio da história brasileira. Para apimentar o drama cinematográfico, eis que surge uma procuradora submissa. No filme “Em nome da lei”, as apurações am pelo juiz que participa de tudo: desde orientar nas investigações, até esconder, a pretexto de proteção à integridade física, uma testemunha.

No mundo real, é possível essa procuradora ter existido? Lógico que é possível. O procurador de carne e osso, Deltan Dallagnol, está aí para chancelar a ficção de Sérgio Rezende. No filme, Odilon de Oliveira é o paladino, o homem de notável bravura – a integrante do Ministério Público Federal, a sua obediente subordinada. Realmente, a ‘doutora’ não a de uma coadjuvante em “Em nome da lei”.

Com as revelações jornalísticas do site The Intercept Brasil, Deltan Delleganol se encaixaria nesse script do cineasta Rezende, só que obedecendo a ordens de outro magistrado: o então juiz Sérgio Moro. O jornalista Vladimir Neto, filho da colunista de Economia da Rede Globo, Mirian Leitão, escreveu livro sobre a operação Lava Jato. Um cineasta apressado, o José Padilha americanizado, transformou o livro de Neto em série, para o canal Netflix. Livro e série televisiva bajularam aquele povo de Curitiba.

Há que se ressaltar: títulos dos trabalhos deles são interessantes – o de Neto, “Lava Jato – o juiz Sérgio Moro e os bastidores da operação que abalou o país”, e, de Padilha, “Mecanismo”. Todavia, inverossímeis. Título simplesinho no livro de Neto ficaria melhor: “Os Bastidores da Operação Farsa Rápido”. Título, aliás, a mim sugerido pelo historiador Ahmad Schabib Hany. Com um livraço desses a orientá-lo, Padilha teria elementos para destrinchar o funcionamento orgânico dessa espetaculosa operação policial-judicial.

Com Moro sendo desmascarado quase todos os dias, José Padilha virou o beicinho para o ex-juiz. Não pediu, no entanto, para o canal Netflix tirar o seu “Mecanismo” do ar. Vladimir Neto precisava trilhar vereda idêntica e solicitar à editora para recolher e queimar os exemplares de seu trabalho sobre Moro. Envergonhados, se é que estão, é o mínimo de gesto de grandeza que Neto e Padilha poderiam demonstrar ao país.

Não falei que voltaria a José Trajano e a Juca Kfouri?
Por telefone, não me recordo em que ano essa curiosidade tomou conta de mim, perguntei a Serjão sobre o jornalismo esportivo praticado no eixo Rio-São Paulo.
– Por aqui, confiáveis só são esses dois nomes que eu te falei.
– Lógico, e as equipes que Trajano e Kfouri montarem, acrescentou.
Serjão dominava o que falava.
Em mais de uma edição, Juca Kfouri foi capa de Caros Amigos.

O bafafá envolvendo Neymar Jr (acusação de agressão e violência sexual a uma jovem modelo) respingou em Mauro Naves, o profissional da Rede Globo que cobre a Seleção Brasileira, Seleção Brasileira que mete 7 a 0 na seleção hondurenha e leva de 7 a 1 do selecionado alemão. O veterano Mauro Naves teria tentado abafar o caso. Que eu saiba, Naves nunca trabalhou com nenhum dos dois jota-jota, José ou Juca.
Acalme-se aí, saudoso Serjão: qualquer hora dessas, eu emplaco uma entrevista de capa com o Trajano.

Luiz Taques foi chefe de reportagem da TV Morena e repórter do jornal Folha de Londrina. É autor dos volumes de contos “O casamento vai acabar com o poeta” (Editora Casa Amarela, 2002); “Bebinho, Mamadinho e o velório de Bafo de Alho” (Editora Letradágua, 2008) e do romance “Um Rio, Uma Guerra” (Editora Kan, 2016).


*As informações e opiniões emitidas neste texto são de inteira responsabilidade do autor e não correspondem, necessariamente, ao ponto de vista do MS em Dia.

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